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- Reportagem especial da série "Venâncio 6 Meses Pós-Enchentes".

De uma hora para outra, nada. Nem teto, nem chão. Ao relembrar a enchente de maio passado, impossível não ter como primeiras imagens, as cenas de destruição de casas. E, em Venâncio Aires, foram pelo menos 306 residências completamente destruídas, conforme vistorias da Defesa Civil Nacional, no entanto, mais de oito mil casas tiveram prejuízos em suas estruturas físicas com as água de maio. Moradores que como a dona Noeci Rodrigues de Paula e o casal Valéria Lisboa e Adriano Gonçalves, ainda dependem do aluguel social custeado pela Prefeitura para ter onde morar.

Com tantos venâncio-airenses desabrigados e desalojados, o município precisou agir rápido para garantir a acolhida e assistência. Três abrigos foram instalados - Linha Mangueirão, Vila Estância Nova e Bairro Santa Tecla, para garantir alimentação, agasalhos, camas, higiene pessoal e suporte às cerca de 600 pessoas que passaram pelos locais. Os espaços ficaram por até dois meses prestando os serviços, tempo em que os moradores que não tinham para onde retornar, tendo em vista a destruição total de suas casas, foram sendo socorridos por outro benefício municipal, o aluguel social.

Foram 295 famílias assistidas pela iniciativa, e hoje, seis meses depois, 270 ainda dependem do apoio da Prefeitura para moradia. A previsão inicial do suporte financeiro era de seis meses, mas o prazo foi prorrogado para até mais seis meses. Tempo em que devem avançar os projetos de habitação popular que priorizam as vítimas da enchente.

DE UNIDADE PRISIONAL À MORADIAS: Ressignificar um espaço que já abrigou um instituto penal para torná-lo ambiente de recomeço para famílias que perderam seus imóveis, foi um desafio encarado com muita agilidade no município. Desafiada pelo Governo do Estado a apresentar uma área para abrigar moradias, a Prefeitura não só ofereceu parte da área do antigo Instituto Penal Mariante, em Vila Estância Nova, mas assegurou a demolição da antiga estrutura do IPM e a infraestrutura necessária para a construção das casas. Por lá, serão pelo menos 72 famílias recomeçando suas vidas. As obras de construção, conforme o cronograma, devem iniciar ainda neste ano.

Falando em habitação popular, Venâncio Aires correu e apresentou projetos habitacionais populares voltados a abrigar as vítimas das enchentes. No bairro Aviação, já em obras, a construção de 112 apartamentos, com previsão de entrega em dezembro do próximo ano. No bairro Battisti, com obras que iniciam ainda neste ano, outras 52 casas populares, e no bairro Brands, outras 30 unidades de moradia cujo projeto aguarda avaliação e autorização da Caixa Econômica Federal. Somados, os projetos atenderiam pelo menos 266 famílias.

Famílias como da dona Noeci Abrão Rodrigues de Paula, estão entre as candidatas à seleção dos projetos habitacionais. Depois de perder a casa e tudo o que tinha nela, em Vila Mariante, ela mora com o esposo, a filha e o genro em uma casa com aluguel social da Prefeitura. Os planos dela agora são construídos para outra área que não seja próxima ao rio Taquari, ela não quer voltar a morar lá, por medo de novas enchentes e novas perdas.

O jovem casal Valéria Costa Lisboa e Adriano Gonçalves, também faz planos de permanecer distante de áreas inundadas. Depois que viram suas conquistas materiais serem estragadas, destruídas e prejudicadas com a brutalidade da água, eles optam por recomeçar a vida, em regiões mais centrais da Capital Nacional do Chimarrão. Adriano relata ainda o drama que viveu em busca se proteger das águas que se elevavam durante as fortes chuvas, nos primeiros dias de maio, já que tem dificuldades de locomoção. “Foi por Deus que tive forças para conseguir subir nos móveis e me proteger da água que subia. É por Deus também que temos força de seguir, porque foram momentos bem difíceis, nós perdemos todas as nossas coisas, tudo. Estamos arrumando devagarinho nossas coisas novamente, tivemos doações das empresas onde trabalhamos, mas não queremos voltar para lugares de risco, não dá para arriscar perder tudo outras vez, ver as coisas se destruindo e não poder fazer nada”, relembra Adriano.

CENTRAL DE DOAÇÕES - Durante quase um mês, em uma parceria com a Paróquia São Sebastião Mártir, a Prefeitura manteve uma central para recebimento de doações que vieram de todo o pais, junto ao pavilhão da comunidade católica, no centro de Venâncio Aires. No local passaram mais de 130 toneladas de donativos, entre alimentos, roupas, materiais de limpeza e higiene, colchões, água potável entre outros itens que atenderam pelo menos 20 mil pessoas. O trabalho voluntário também marcou presença neste espaço, através de muitas mãos que além de levar doações, também ajudaram na triagem dos donativos.

Entre os atingidos pela enchente, 386 famílias foram contempladas no “Volta por Cima”, com valor de R$ 2,5 mil por unidade familiar, e 257 famílias no “Pix SOS Rio Grande do Sul”, ambos programas do Governo Estadual. Já pelo programa “Auxílio Reconstrução”, do governo federal, 2.214 famílias tiveram recursos de R$ 5,1 mil liberados. Pelo município, além das doações pela Defesa Civil, da comunidade, entidades e empresas direto para os atingidos, foi repassado, através do programa Valoriza Venâncio, os totais de: 5.697 cestas básicas, 5.361 kits de limpeza, 5.953 kits de higiene e 1.168 colchões.

Enfim, voltando aos depoimentos da dona Noeci, da Valéria e do Adriano, fica claro que eles simbolizam a bravura venâncio-airense, de moradores que mesmo judiados pelas perdas e dores que vieram com a calamidade, não desiste de acreditar em dias melhores.

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Moradia: o alívio da dor pelas perdas vem com a acolhida e esperança no recomeço